No dia 17 de outubro, a história dos jogos eletrônicos ganha um novo caminho: as telas do cinema. O documentário “O Fenômeno dos eSports” mostrará o surgimento do e-sports e o crescimento da indústria ao redor. Ao mesmo tempo, é possível revisitar questões profundas que marcam este mercado.
Estima-se que existem 3,7 bilhões de jogadores em todo o planeta, conforme pesquisa feita pela DFC Intelligence e publicada pelo site Games Industry, e esse número não para de crescer. No Brasil, 73,9% dos brasileiros têm o hábito de jogar jogos digitais conforme a Pesquisa Gamer Brasil 2024 (PGB2024).
Dentro desse ecossistema, os jogadores profissionais vivem uma rotina intensa e desafiadora, cercados por uma base fiel de torcedores e fãs, que impulsionam a consolidação de grandes eventos e o desenvolvimento dos negócios da indústria.
Antes de tudo é preciso entender, qual é a diferença entre a Indústria de Games e a de e-Sports?
É importante distinguir a indústria de games da indústria de e-Sports, dois setores interligados, porém com dinâmicas e mercados distintos. A indústria de games é ampla e inclui o desenvolvimento, a publicação e a venda de jogos eletrônicos para diferentes plataformas, como consoles, PCs e dispositivos móveis. Esse mercado abrange desde títulos voltados para entretenimento casual até jogos single-player de narrativa complexa, abrangendo milhões de consumidores ao redor do mundo.
Já a indústria de e-Sports se refere especificamente ao segmento competitivo dos jogos eletrônicos, onde jogadores profissionais competem em torneios organizados, com grande infraestrutura e uma audiência global. O foco do eSports está na competição, muito similar aos esportes tradicionais, e movimenta cifras significativas em patrocínios, premiações e transmissões ao vivo.
Embora faça parte do universo dos games, o eSports possui características únicas, como a profissionalização dos jogadores e equipes, grandes eventos transmitidos para milhões de espectadores e a construção de um ecossistema próprio de torcidas, ligas e campeonatos.
Alto nível de competitividade exige uma rotina de disciplina rígida
Engana-se quem pensa que a vida de um jogador profissional é apenas diversão. A realidade envolve treinos rigorosos, que podem durar de 8 a 12 horas diárias, além de sessões de análise tática, estudo de adversários e acompanhamento psicológico. A rotina é similar à de atletas de alto rendimento dos esportes tradicionais, com foco em preparação física e mental, nutrição adequada e um acompanhamento multidisciplinar, visando à melhor performance.
“É essencial entender que a nutrição desempenha um papel fundamental no desenvolvimento dos jogadores de e-sports. Assim como atletas convencionais, os gamers precisam de uma dieta equilibrada para sustentar o foco, a energia e a saúde a longo prazo. A suplementação desempenha um papel importante, preenchendo lacunas na dieta e fornecendo os nutrientes essenciais que podem estar ausentes na alimentação regular”, comenta o CEO do Team Solid, Marcos Guerra.
Além disso, os jogadores precisam lidar com a pressão de representar grandes organizações, marcas e patrocinadores que apostam milhões no sucesso dessas equipes. A exposição midiática e as expectativas da comunidade também afetam o estado emocional dos atletas, tornando a saúde mental um fator crucial para a longevidade de suas carreiras.
O ecossistema das torcidas e fãs
Um dos motores que impulsionam o sucesso dos jogadores e eventos é a dedicação das torcidas. Fãs de eSports criam comunidades online, produzem conteúdos relacionados aos seus times e atletas favoritos, e participam ativamente de transmissões ao vivo, seja comentando ou consumindo produtos licenciados. Essa relação entre atletas e torcida é muito próxima, com interações diárias nas redes sociais e plataformas de streaming como Twitch e YouTube.
Os campeonatos internacionais de e-sports são verdadeiros espetáculos, comparáveis aos grandes eventos esportivos tradicionais, atraindo milhões de espectadores online e nos estádios. Eventos como League of Legends World Championship, Esports World Cup 2024 e Free Fire World Series reúnem torcidas globais e movimentam cifras milionárias em premiações, patrocínios e direitos de transmissão. Esses torneios oferecem não apenas entretenimento, mas também oportunidades de negócios em áreas como marketing, publicidade e desenvolvimento de novas tecnologias.
A consolidação de grandes eventos
A construção de grandes eventos de eSports envolve uma complexa rede de operações, desde a organização logística até a busca por patrocinadores. Empresas de tecnologia, marcas de consumo e plataformas de streaming são algumas das que apostam no potencial dos games para alcançar novos públicos. A profissionalização dos eventos tem levado à criação de arenas próprias, como o Esports Stadium Arlington, nos Estados Unidos, e a CBLoL Arena, no Brasil, que oferecem estrutura de ponta para competições e transmissões de alta qualidade.
Segundo o relatório da Newzoo, o faturamento por trás desse universo pode chegar a US$ 211,2 bilhões em 2025. Para a Mordor Intelligence, o mercado de jogos em nuvem atingirá US$ 6,80 bilhões até 2028, prometendo um crescimento significativo e contínuo. A cada ano, mais países reconhecem o potencial da indústria dos games, incluindo os eSports em seus programas esportivos e culturais, fortalecendo o ecossistema como um todo.
Desafios de um mercado em ascensão
Embora o mercado de games continue em crescimento, ele enfrenta desafios consideráveis. A profissionalização dos atletas exige uma estrutura robusta de suporte, desde a base amadora até as ligas profissionais, com treinamento adequado e suporte psicológico. Além disso, questões como saúde mental, fadiga digital e gerenciamento de carreiras precisam ser discutidas com seriedade, evitando que jogadores abandonem suas carreiras precocemente.
Outro desafio é o controle e regulação de um ambiente que envolve milhões de jovens, criando a necessidade de mais políticas de prevenção ao vício em jogos e uma fiscalização mais atenta a práticas de monetização abusivas, como as loot boxes.
Por fim, a diversidade e inclusão continuam sendo temas sensíveis. A presença feminina, por exemplo, ainda é limitada em muitos cenários competitivos, com jogadoras enfrentando preconceito e obstáculos no acesso ao topo das competições.
“Reconhecimento é a parte mais difícil na carreira de uma mulher gamer”, diz Luiza Trindade, também conhecida como Croft, gerente de e-sports do Team Solid. “Ainda existe uma desconfiança enorme em relação à qualidade do trabalho das jogadoras. Isso só fortalece o discurso machista de que elas são boas demais para serem mulheres. Além disso, as premiações em campeonatos femininos muitas vezes são baixas, inviabilizando a manutenção de um cenário competitivo forte”, completa.
Iniciativas como Revelah Casters, You Go Girls e Mulheres no E-sports buscam promover a igualdade de gênero na comunidade, mas o caminho ainda é longo.
O futuro dos negócios nos games
A indústria dos games já ultrapassou a de outros setores do entretenimento, como a música e o cinema, em termos de receita. Grandes corporações de tecnologia continuam investindo pesado em inovação, com o cloud gaming sendo a próxima grande aposta. Além disso, a inteligência artificial e o metaverso prometem criar novas possibilidades de interação e consumo de conteúdo, revolucionando o mercado nos próximos anos.
“A expectativa é de que o setor continue expandindo suas fronteiras, criando novas oportunidades tanto para jogadores profissionais quanto para empresas, investidores e fãs apaixonados por games”, conclui Marcos.